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Mesa debate o conceito de “Indústria 4.0” e seus impactos na sociedade

Ritmo acelerado das mudanças tecnológicas muda as relações sociais e impõe nova lógica à produção econômica, ao mundo do trabalho e ao ensino

 

A mesa-redonda, desta quarta-feira (29) reuniu docentes e pesquisadores da rede federal para debater a indústria 4.0 e seus impactos na sociedade. O conceito de “Indústria 4.0” foi apresentado em 2012, quando a comunidade científica internacional entendeu que o mundo atravessa uma nova etapa da revolução industrial, caracterizada pela automação do controle dos processos produtivos, por meio da comunicação direta entre as máquinas e processos em operação.

“O funcionário da indústria 4.0 não comanda as máquinas; ele atua como um gestor de produção, que supervisiona o trabalho delas e é responsável pelo processo produtivo”, explica o professor Osmar Veras Araújo, Engenheiro de Produção e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Núcleo de Tecnologia/Engenharia de Produção do Centro Acadêmico do Agreste, em Caruaru. A indústria 4.0 relaciona-se, segundo ele, com áreas como Ciência de Dados, Big Data, Internet das Coisas e Machine Learning.

O debate entre os pesquisadores da mesa abordou tanto os desafios globais quando os específicos, nas diversas regiões brasileiras, na transição para a Indústria 4.0. “A revolução tecnológica está muito adiantada, mas tenho dúvidas se nós estamos acompanhando. A dificuldade de adaptação do trabalhador às novas tecnologias sempre existiu, mas o gap temporal da revolução industrial está diminuindo e impondo desafios maiores”, afirma Walter Franklin Marques Correia, Engenheiro de Produção e professor do departamento de Design da UFPE. Ele apresentou o trabalho de uma equipe multidisciplinar da universidade que viabilizou a fabricação de modelos de corações com cardiopatias, para auxiliar na formação de médicos e na preparação de cirurgias de crianças que nascem com problemas congênitos. “A indústria 4.0 não é uma tecnologia nem um fim em si mesmo. É um meio de articular diferentes áreas e solucionar problemas”, disse ele.

José Ângelo Peixoto da Costa, engenheiro mecânico e professor do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), concorda: “Também na Engenharia e na indústria, como em tudo que fazemos, temos que pensar na dimensão do ser humano; saber a quem a tecnologia vai atender”, afirmou. Ele também falou da mudança do perfil profissional exigido pela Indústria 4.0. “Fala-se muito na perda de postos de trabalho, no fim de profissões tradicionais, mas é preciso pensar também nas oportunidades que estão se abrindo, inclusive de trabalhar para fora de sua região, para outros lugares, presencial ou remotamente”.

Araújo, do Núcleo de Tecnologia da UFPE, destacou ainda a necessidade de adesão dos empresários brasileiros, e não só dos trabalhadores, à Indústria 4.0.  “Há muita gente estudando, mas pouca gente aplicando a indústria 4.0. Outra frente em que temos que atuar é justamente na sensibilização do meio empresarial para o potencial da tecnologia e da automação em aumentar o valor agregado dos produtos, sanar problemas de produção e atender as necessidades dos consumidores”, afirmou. 

EDUCAÇÃO - A conferência, que foi mediada pelo pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), José Pinheiro de Queiroz Neto, se encerrou com um debate entre os membros da mesa e espectadores sobre os impactos dessa quarta revolução industrial nas atividades de ensino e formação profissional. 

Práticas de ensino, formas de avaliação e projetos de pesquisa e extensão universitária foram alguns dos assuntos tratados. A formação de professores também foi lembrada como um desafio para integrar o ensino tecnológico e universitário à nova realidade da indústria – Neto lembrou iniciativas do governo federal nesse sentido e a articulação em curso na rede federal para a oferta de um mestrado profissional em Manufatura Avançada.“Temos uma responsabilidade social muito grande de trazer esse debate para dentro das instituições de ensino”, disse o mediador. “Espero que essa conversa seja motivadora para fazermos essa discussão em nossas comunidades”.